Os Deuses Franceses do Pop
Por Claudia Ferrari

Na Grécia antiga havia 2 deuses muito importantes, que representavam o poder da natureza: Demeter (ou Ceres para os romanos) e Dionísio (ou Baco para os romanos). Assim como os gregos, o pop francês também teve dois deuses fundadores: Françoise Hardy (Demeter) e Serge Gainsbourg (Dionísio).

Sem eles, o pop francês não seria o que é hoje. Veja por exemplo a coletânea “Pop Romantique” (álbum de covers de músicas francesas): nada menos que 2 músicas são de Françoise Hardy e 4 são de Serge Gainsbourg!

<Françoise Hardy> Começou a cantar bem cedo, tinha apenas 17 anos. Sempre acompanhada do seu violão, conquistou os franceses (e o resto do mundo) com seu jeito meio triste e tímido de cantar. Durante os anos 60 Françoise Hardy conheceu o seu auge, tendo até mesmo participado de filmes (“Grand Prix” e “What’s New, Pussycat”, entre outros).

Músicas que vale a pena conhecer: “Tous les garcons et les filles”, “J'suis d'accord”, “Comment te dire adieu”, “Parlez-moi de lui”. Apesar de compor cerca de 80% das músicas que cantava, Hardy também interpretou músicas de outros autores, como por exemplo a belíssima “L'anamour” de Serge Gainsbourg (que depois foi regravada pela banda Ivy). O jeito mais fácil de conhecer Françoise Hardy é comprando uma dessas coletâneas do tipo “Best Of ...”, que provavelmente terá todos os seus hits. É altamente recomendável o disco “Comment te dire adieu”, gravado em 1.968, que contém a música “L'anamour” e uma versão de “Suzanne” do Leonard Cohen em francês. Também vale a pena lembrar que Os Mutantes cantaram uma música de Hardy (“Le premier bonheur du jour”) no seu primeiro álbum.

Felizmente, Françoise Hardy não parou de cantar, tendo colaborado em uma música (“Revenge of the Flowers”) no disco “Paris” de Malcom Mclaren (sim, ele mesmo!); com o Air numa música linda chamada “Jeanne”, que pode ser encontrada no single de “Sexy Boy” ou na coletânea “Pop Romantique”; e com o Blur numa versão “afrancesada” de “To The End” (do álbum “Parklife”), chamada “La Comédie”. No próximo dia 2 de Maio sairá o seu novo álbum, “Clair Obscur”, o qual terá um dueto com Iggy Pop!

<Serge Gainsbourg> Este sim fez juz ao adjetivo “dionisíaco”: bebeu muito, cantou mais ainda e amou demais! Gainsbourg, para quem não sabe, compôs "Je T'Aime...Moi Non Plus", trilha sonora favorita de filmes pornôs e motéis de beira de estrada. A música foi condenada como imoral e banida de vários países, inclusive o Brasil.

Apesar de feio, Gainsbourg foi amante de algumas das mulheres mais lindas da época, como Brigitte Bardot (a famosa BB) e Jane Birkin. BB foi sua parceira mais famosa e para ela Gainsbourg compôs várias músicas. Sua paixão por BB era tamanha que ele tinha pôsteres imensos dela em sua casa.

Escreveu para ela músicas como: “Bonnie and Clyde”, “Comic Strip”, “Harley David Son of a Bitch”, “Initials BB” e a famosa "Je T'Aime...Moi Non Plus". No entanto, Bardot acabou deixando Gainsbourg, já que era casada. Para curar uma paixão mal resolvida só mesmo outra. Gainsbourg se apaixonou novamente por outra atriz, Jane Birkin, que foi sua parceira mais constante. Com ela teve uma filha, Charlotte Gainsbourg, atriz famosa do cinema francês. Charlotte cantou com seu pai a música “Lemon Incest” quando tinha apenas 14 anos, o que dá um tom bastante apimentado ao suposto “incesto” entre pai e filha.

Assim como Françoise Hardy, o jeito mais fácil de conhecê-lo é através de “Best of ...”. Infelizmente, Gainsbourg morreu em 2 de Março de 1991. Compôs músicas nos mais diversos estilos: rock, ragtime, cabaret, reggae, beatnik, etc. e também dirigiu filmes. Enfim, viveu intensamente tudo o que fez.

Recentemente, Mick Harvey (do Bad Seeds, banda de apoio de Nick Cave) gravou 2 discos com covers e versões das músicas de Gainsbourg: “Pink Elephants” e “Intoxicated Man”. Vale a pena conferir depois de ouvir o original.