Reflexões Alisônicas
Por Miguel F. Luna

É meio de semana, quarta-feira de um mês de junho friorento que já derrubou um punhado de amigos meus, com gripe. No som, Yo La Tengo novo, lindo lindo e... lindo. Mesmo assim, e sem ouvir, a canção dos últimos dias tem sido Alison, do Elvis Costelo...

Não, ela não ligou, não mandou e-mail e nem apareceu na porta de casa vestida em um paletó de couro sobre um pijama de bolinhas. O que me fez cantar "my aim is true" em pensamento todos esses dias foram a porção inimaginável de cartas e emails que recebi, de gente elogiando a teoria (publicada na edição anterior), o texto, a canção, tudo. É muito legal ter um feedback desses, principalmente na passionalidade que o texto passava. Mas, saibam, fiquei preocupado.

Preocupado pois sei que por trás dos elogios existem uma porção de pessoas vivendo situações terrivelmente alisônicas, cujo sintoma maior é a perda de alguém que a gente julga "a pessoa certa" para nós. Por isso, vivemos a margem, romances incompletos. Não é legal, mesmo. A não ser que você nutra alguma chance de retorno, ai vale. Caso contrário, é tragédia grega.

No meu caso particular, exemplificando, Vitória é uma cidade proibida. Não piso lá nem que alguém diga que Ian Curtis ressuscitou para um único show com a formação original do Joy Division em que ele vai cantar Atmosphere. Nem. Então, bola pra frente, certo. Certo?

Errado. Não consigo me apaixonar e acho que a garota que eu tava paquerando, e que eu queria que se apaixonasse por mim, se achou carta fora do baralho, por esse papo de Alison, e desistiu. Não é legal isso. Nem um pouco.

Não é legal ter uma Alison. É legal ter uma Ana ("She's my fave, undressing in the sun"), é legar ter uma Sweet Jane ("Cause life is just die, but, anyone who has a heart wouldn't want to turn around and break it"), é legal até ter uma Metal Baby ("My Metal Baby, made me take her to the heavy metal show") ou uma Lump ("Lump lingered last in line for brains and the one she ot was sort rotten and insane"). Alisons só dão dor de cabeça. E corações partidos. 

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Garotas perguntam: uma menina pode ter um Alison? É claro. Infelizmente vocês não estão livre. Nem os gays, nem os negros, nem os japoneses, nem os marcianos, nem os personagens de Woody Allen e muito menos Spit, personagem principal do romance rock and roll Clube dos Corações Solitários, de André Takeda, se salvam.

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Garotas continuam perguntando: é possível ter dois Alisons? Com muito azar, sim.
 
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Teorizando em nível rasteiro: talvez Alisons sejam Copas do Mundo perdidas como as de 50 e a de 82. Permanecem mais que conquistas como a de 94... 

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Alguém cantou baixinho no meu ouvido: 
"as brigas que eu ganhei, nenhum troféu como lembrança pra casa eu levei. 
as brigas que eu perdi, essas sim, eu nunca esqueci, eu nunca esqueci..." 

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Enriquecendo o repertório de Alisons:
Alison Road, dos americanos do Gin Blossoms, foi a canção de fundo desse texto. 

"I've lost my mind on what i'd find, and all of the pressure that I left behind on Alisson Road.
Now I can't hide so why not drive I know I want  to love her  but I can't decide on Alisson Road
Dark clouds file in when the moon in near birds fly by a.m. in her bedroom stare
there was no tellin what I might find I couldnt, see I was lost at the time...
Yeah, I didn’t know I was lost at the time on Alisson Road" 

Miguel, 26, sabe tanto de Alisons quanto falar francês, ou seja, nada...

Leia também:
Teoria de Alison, por Miguel F. Luna

Nota do Editor: a Teoria de Alison foi publicada pela primeira vez na versão on paper do Scream & Yell, em março de 2000. Foi um dos textos mais comentados da edição, rendendo muitas cartas e comentários ao autor, que ainda preparou um segundo texto, que estaria no número 7 do Scream & Yell On Paper, mas acabou sendo publicado na versão on line, na estréia do site, chamado "Reflexões Alisônicas".