"Viva Bird! - Assassinato em Tempo de Jazz", Bill Moody
por Jonas Lopes
Capa - Reprodução

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08/12/2004

É difícil conter a surpresa ao bater os olhos na sinopse de Viva Bird! - Assassinato em Tempo de Jazz (Jorge Zahar Editor), de Bill Moody. Um romance policial sobre jazz, veja só. O argumento de Viva Bird! é curioso e um tanto original. Evan Horne é um pianista que está de volta ao circuito após meses se recuperando de um acidente em que rompera os tendões das mãos, seus instrumentos de trabalho. Sua temporada de retorno em um pequeno bar é um sucesso, seu novo trio está entrosado como nunca e logo pinta um contrato com uma gravadora pequena, mas de prestígio, seu relacionamento com a estudante de direito Natalie é tranqüilo e agradável.

Mas de repente o saxofonista Ty Rodman é morto a punhaladas no camarim depois de um show. Rodman toca uma espécie de "jazz suave", aquela coisa abjeta que faz a fama de seres ainda mais abjetos, como Kenny G. No espelho do camarim está escrito com sangue a frase "Viva Bird!". Pra quem não sabe, Bird era o apelido do lendário saxofonista Charlie Parker, um dos criadores do bebop, e um dos músicos mais cultuados da história do jazz. Quando Parker morreu, em 1955, de overdose, os muros dos bairros em que se apresentava foram pichados com a frase que dá título ao livro.

Como o melhor amigo de Evan Horne, Ace Buffington, é investigador da polícia, o pianista é chamado para explicar o significado da frase no espelho. Na verdade, não era a primeira vez que Horne colaborava com a polícia. Enquanto estava se recuperando do acidente, resolveu os casos que ilustram outros livros de Bill Moody (uma verdadeira série de detetive, como nos clássicos policiais). No camarim de Ty Rodman, Horne percebe que o assassinato aconteceu no mesmo dia da morte de Bird, 12 de março.

A polícia descobre outros dois assassinatos ocorridos anteriormente em Nova York. Pouco depois, mais uma morte, agora em São Francisco. Em cada crime, o assassino deixa uma fita com um tema famoso de jazz tocando, os assassinatos sempre ocorrem em datas importantes do estilo, e as vítimas são sempre músicos de jazz suave. O FBI assume o caso, e Evan Horne é chamado para auxiliar na busca do assassino por ter conhecimento enciclopédico de jazz, e coloca em risco seu contrato de gravação e o namoro com Natalie. Mesmo assim Evan não consegue largar o caso, graças à sua paixão por investigação.

O autor, Bill Moody, é baterista (de jazz, evidentemente) e crítico musical nas horas vagas. Moody já teve outro livro lançado aqui, o recente No Rastro de Chet Baker. A escrita do baterista é surpreendentemente boa. Seu texto é rápido, ágil, cheio de diálogos irônicos. A história traz vários dos clichês deliciosos dos livros policiais, como o assassino maníaco-depressivo e desequilibrado, flertes, quebra-cabeças.

Viva Bird! é um daqueles livros que se lê rápido e se esquece mais rápido ainda - e não, isso não é uma crítica. Faz parte daquele rol de livros que, após começado, a gente só consegue largar quando termina. Os fãs de jazz vão se deliciar com as referências e alusões à história do estilo; os fãs de romances policiais vão se satisfazer com a trama eficaz. Quem admira as duas coisas, como eu, vai ter bastante diversão por algumas horas. Ao final, restará apenas colocar Chet Baker no som e pensar: Viva Bird!.

Site oficial de Bill Moody