"Goth Chic: um Guia para a Cultura Dark", de Gavin Baddeley
por Danilo Corci
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22/05/2006

Cultura de cemitério, dentes pontudos, sangue, vampiros, um baixo rasgado marcando um ritmo quase hipnótico, baterias eletrônicas, timbre funestos, histórias de horror - mais do que propriamente de terror (duas coisas diferentes, lembrem sempre). Acrescente ai uma legião de adolescentes rebeldes, um certo ar blasé e uma importância absurda à estética (seja ela em roupa ou no sentido aguçado de um gênero, estilo artístico). 'Camps' malfadados às maldições. Neste caldeirão efervescente, você tem uma das tribos urbanas paridas na década de 80 e que resistem ainda hoje - que, ao que tudo indica, é a nova bola da vez em resgate. Sim, são eles, os góticos.

Como toda a tribo urbana, os góticos surgiram meio que por um grande acaso, frutos diretamente da música e foram rapidamente absorvidos pela cultura de massa, que após vinte anos de existência, já se tornaram referência visual para as mais variadas idéias de comércio, produtos e consumo. Cresceram, viraram parte essencial de um comércio dito alternativo que movimenta boas somas, adotaram a Internet como principal ferramenta e, claro, ganharam vida em coleções de moda de grifes importantes ao redor do mundo. De fato, deglutido e regurgitado.

Uma farta evidência disto são as inúmeras publicações tentando desvendar os mistérios do gótico. Aos brasileiros, pouco restava, já que quase todas as obras eram produzidas lá fora e não havia interesse editorial em trazê-las para cá. Eis que a editora Rocco publica Goth Chic: um Guia para a Cultura Dark (288 págs, R$ 52, em média), do inglês Gavin Baddeley, fazendo os aficionados pelo gótico brilharem os olhinhos.

E o que traz o tal guia? Tudo e nada, de fato. Tudo porque se trata de um extenso mapeamento da cultura dark, dos romances góticos ingleses originais ao rock eletrônico com toques sombrios. Entretanto, a superficialidade do enfoque deixa um pouco a desejar para quem gostaria de mergulhar numa análise mais teórica e erudita do assunto, como a encontrada em Gothic: Four Hundred Years of Excess, Horror, Evil and Ruin, de Richard Davenport-Hines, disponível, por enquanto, somente em inglês através de importadoras.

Gavin Baddeley é um pesquisador bem disposto, mas deixa evidente sua principal preferência: a música. No caso de um livro sobre a cultura dark, não chega a ser um erro absurdo, afinal, se levarmos em consideração esta aglutinação de pessoas em volta do sombrio, isso só aconteceu no final da década de 70, início dos 80 através do pós-punk britânico. Ali surgia a tribo urbana, bem diferente dos admiradores excêntricos de uma literatura decadentista que existia anteriormente. A importância da música é tão absurda que quase a totalidade literária do gênero surgida após 1980 bebe da música - quando não são vampiros roqueiros, o próprio autor faz ou fez parte de alguma banda.

É interessante notar que tanto Gavin como os intitulados góticos costumam rejeitar o rótulo. Ao passear por toda a leitura, você dificilmente terá uma resposta definitiva sobre o que é gótico, pois o autor hesita em colocar a questão prática da tribo urbana. Mais político, aposta nas associações culturais de estética, que, de maneira efetiva, atingem públicos variados - nem todo mundo que gosta de filme de vampiros é gótica, muito menos quem pratica bondage, por exemplo.

Goth Chic: um Guia para a Cultura Dark entrega o que promete, ou seja, ser um guia estético. Literatura, moda, HQ, satanismo, RPG, cultura pop, sexo e música, muita música (até o Doors é citado como um dos inspiradores da futura cena gótica musical) são apresentados de maneira clara e didática. Serve como um apetitoso cardápio variado de decadências, sobrenatural e cinzas diversos, mas, acima de tudo, como um delicioso banquete de história do rock contemporâneo, de Bauhaus, Christian Death e o louco Rozz e as baladas londrinas que criaram um novo gênero musical.


Texto cedido pelo site Speculum

Site da editora Rocco