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"Che, Uma Biografia", Jon Lee Anderson
por Ricardo Negrão
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13/03/2006

Em poucos meses, mais um capítulo da vida de Ernesto Guevara de la Serna estará em evidência nas telas. Desta vez, o do líder destacado e combatente revolucionário. Mas ao contrário do filme de Walter Salles (Diários de Motocicleta) este Ernesto (com Benício Del Toro como Comandante Guevara) das telas será diferente. É no papel de Comandante Che que ele despertará paixões e ódio. Não há como ficar indiferente a este extraordinário personagem do século XX. Não será exagero se aparecerem furiosas críticas ao filme, que já está cercado de expectativa.

Portanto, se você realmente quer conhecer Ernesto, ou simplesmente Che, há nas livrarias uma centena de publicações que podem auxiliar. A mais completa delas é uma biografia escrita (curiosamente) por um norte-americano, Jon Lee Anderson. Che, Uma Biografia foi lançada em 1997 (editora Objetiva) e conta com pouco mais de 900 páginas, resultado de mais de cinco anos de intensas pesquisas. E acredite, é pouco!

Uma boa maneira para entender Ernesto, é comparar seu crescimento filosófico a uma montanha, com intermináveis lances de escadas. Sua vida foi assim. Até se tornar um dos principais personsagens do século XX foram anos de longas aventuras morro acima, e é esta empreitada que Anderson apresenta, de maneira simples, porém rica em detalhes.

Che, Uma Biografia é dividido em três partes que refletem bem cada fase de Ernesto: "Juventude agitada", "Tornando-se Che" e "Criando o Novo Homem". Para se ter uma idéia da complexidade deste personagem, basta dizer que estas três partes poderiam facilmente se desdobrar em três biografias diferentes. Somando-se a isso, basta lembrar Sartre, que considera Ernesto o "ser humano mais completo da nossa época".

É claro que a grande maioria tem uma visão romântica do líder que largou seu país, sua família, em busca da libertação da América Latina. Mas Che não é apenas isso, e Anderson o revela com dedicação. Se apenas uma parte desta vida estiver nas salas de cinema, será uma grande oportunidade perdida para que as novas gerações conheçam realmente quem foi Che.

Muito mais que um aventureiro ou um guerrilheiro, Che foi um pensador, que por meio da sua disciplina deu ao mundo algo novo. Nasceu Ernesto, argentino. Morreu Che, cidadão do mundo.

Em 39 anos, conseguiu o que poucos jamais ousarão pensar: serviu de exemplo, desafiando o seu tempo, seus próprios limites (a asma era o mais físico deles) e os homens. Idolatrado em Cuba, ícone revolucionário que serviu de exemplo para centenas de organizações guerrilheiras, herege na Rússia e perseguido pelos anti-castritas e norte-americanos.

Incansável, Che trabalhava todos os dias, inclusive às madrugadas. Era temido e admirado pelos cubanos, que o seguiam com uma fidelidade admirável. Não se separava de seu mate, não tinha cuidado com sua aparência e tampouco gostava de tomar banho (em sua campanha na Bolívia, comemorou o fato de ter ficado seis meses sem um único banho), uma marca que o fez ganhar o apelido de Chancho. Estas são algumas características do homem. Enganam-se os que pensam em Guevara apenas como um guerrilheiro brilhante e invencível - suas falhas foram determinantes para a sua morte. Talvez, sua principal contribuição seja a criação do Novo Homem. E é esta a parte fundamental, e a melhor de toda a vida de Che.

Na terceira parte do livro, Anderson passa a contar os dias finais do Comandante e revela seus pensamentos. Mas não pule logo para esta parte final. Antes, veja como este médico curtiu suas aventuras pela América Latina e passou a integrar um grupo de guerrilheiros que ousou desafiar os Estados Unidos.

Talvez o Novo Homem seja um exemplo seguido pelas milhares de pessoas que usam camisetas, bonés e chaveiros, ainda que de forma inconsciente. O "Che pop" que vemos pelas ruas pode ser apenas a sombra deste exemplo solitário que desafia todos a segui-lo. Mas não se preocupe: quando você finalmente chegar ao topo da montanha, verá um novo mundo. Prepare-se, porque não há como voltar atrás.


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"De Moto Pela América do Sul", de Che Guevara, por Drex Alvarez

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