Yu-Gi-Oh! O Filme
por Marcelo Costa
maccosta@hotmail.com
27/08/2004

É provável que o número de garotos (as) com menos de 10 anos que leiam os textos que são postados neste site seja ínfimo, mas não dá para dizer que seja zero. Sabe se lá. Fico pensando nas amadas afilhada (Amanda, sete anos, gosta de skate e de Gorillaz) e sobrinha (Gabriela, 4 anos, gosta de Rei Leão e de colocar a turma da sala da pré-escola em ordem) e não as vejo aqui (tomara que por um bom tempo).

Então por que perder tempo, catzo, escrevendo sobre Yu-Gi-Oh! O Filme? Fiquei caraminholando esta questão enquanto me dirigia para o cinema, em uma terça-feira de manhã, lutando contra o péssimo humor que queria porque queria me devolver à cama. A insistência do cérebro sobre o coração (ou será que foi ao contrário?) mostrou-se eficiente. Yu-Gi-Oh! O Filme foi uma excelente experiência, uma entrada na máquina do tempo, embora um cara logo atrás de mim, com seus vinte e poucos anos, tenho roncado (levemente) em boa parte da sessão e me distraído ao confortar um lado meu que adoraria estar sonhando e não assistindo desenhos.

Antes de qualquer coisa, Yu-Gi-Oh! O Filme não é um filmaço, imperdível e tal. A história gira em torno de um jogo de cartas que nada mais é que o antigo Super Trunfo, acrescido de regras especiais e efeitos de imagem. E um pouco de misticismo, o que pode atiçar a curiosidade da molecada para as antigas religiões/civilizações. Yu-Gi-Oh! O Filme é apenas um desenho animado de longa duração e focado no público infantil (diferente de Shrek, por exemplo). Não dá para ser nostálgico e dizer que desenho bom era o que eu via na minha infância (Corrida Maluca, Pica-Pau, Papa-Léguas, no máximo Caverna do Dragão). O mundo mudou (e vive mudando) e quem fica preso no tempo acaba perdendo contato com o mundo presente. E com as crianças (filhos, afilhados, sobrinhos).

A questão toda, na verdade, é que de vez em quando enche o saco ser adulto, com responsabilidades, contas para pagar e sonhos para realizar. Tudo que nos rodeia é cercado de expectativas. Comemos algo em busca de um sabor, lemos em busca de conhecimento, sempre procuramos ter uma opinião acerca das coisas. Tudo bobagem. Yu-Gi-Oh! O Filme me fez voltar no tempo, sentado na sala de casa enquanto a tela da televisão distraia minha mente de moleque que nada sabia sobre sexo (hoje em dia, relacionamentos), drogas (cerveja, no máximo uma tequila) e rock and roll (blá blá blá).

Envelhecer é perder a inocência e acumular experiências. É trocar risadas ingênuas por sorrisos irônicos. É nunca se satisfazer com a simplicidade das coisas, afinal, se a gente pode dificultar tudo, por que facilitar? É claro que tudo isso é uma visão copo meio vazio. Existem coisas ótimas em se ter 34 anos (no meu caso) que eu não abriria mão de forma alguma, porém, e esse é o tema desta resenha, às vezes é muito bom baixar a guarda e curtir o momento apenas por curtir, sem ficar pensando se isso ou aquilo é perfeito ou útil ao nosso crescimento interior. É preciso rir de si mesmo de vez em quando. Imaginar-me com um bracelete Yu-Gi-Oh! convocando lutadores para um duelo foi extremamente engraçado e eu ri sozinho, sentado na sala de cinema. E é inocente. É a típica coisa que vale mais do que uma ida ao psicanalista. E é só um desenho, vale lembrar. Quantos anos você tem mesmo, caro leitor?