"O Despertar de Uma Paixão"
por André Azenha
Blog
16/09/2007

"O Despertar de Uma Paixão" foi lançado no finzinho da temporada passada em circuito restrito nas cidades de Los Angeles e Nova York, com o intuito de ainda tentar alcançar algumas indicações para o Oscar desse ano. No geral, a crítica ianque gostou muito da obra e alardeou prováveis premiações. Os principais prêmios não aconteceram, com excessão à maravilhosa trilha sonora original de Alexandre Desplat, vitoriosa no Globo de Ouro.

Talvez a pressa em lançar o longa tenham prejudicado uma caminhada que poderia ter sido melhor em festivais mundo afora. Pois o filme tem duas estrelas de renome que também são excelentes atores e desempenham belíssimas atuações, conta com uma bela fotografia, locações esplêndidas e excelente ambientação de época.

Engavetado desde 1999 por Edward Norton, a produção começou realmente a ganhar vida quando, em 2001, Naomi Watts topou a empreitada de atuar no longa (ela queria férias após os oito meses de filmagens de "King Kong" e o filme foi adiado mais alguns meses) como protagonista e produtora ao lado do ator. Sem conseguir financiamento, o projeto finalmente começou a sair dos papéis em 2003, quando a Warner Independent entrou na jogada, com a grana necessária.

Adaptada do romance de 1925, "O Véu Pintado", escrito por W. Somerset Maugham, a trama retrata a China do início do século passado. Norton vive o bacterologista Walter Fane. Watts interpreta Kitty, moça mimada que pode ficar para titia (atrocidade aos olhos da época) e vê no rapaz uma boa chance de sair das asas da mãe. O desinteresse pelo marido a leva a um caso extraconjugal. Ao descobrir, Walter decide se vingar: ou ela se junta a ele em uma viagem ao interior da China ou enfrenta o escândalo e é taxada de adúltera.

Com a viagem para o coração do Oriente, onde Walter trabalha em áreas empesteadas por uma epidemia de cólera (importante lembrar que naquele período a doença não tinha uma cura como atualmente), Kitty vai finalmente descobrindo o marido e o que fazer com sua vida. No pano de fundo ainda há um importante recado sobre o colonialismo que o ocidente impõe sobre as outras nações.

Por mais que o ritmo do longa soe lento, dá chances ao expectador de saborear belas nuances nas atuações de todo o elenco (destaque para Toby Jones, o Capote de "Confidencial", novamente bem e completamente diferente do outro papel), das ótimas tomadas e pequenos detalhes – bacana a maneira como o diretor John Curran flagra os pés da atriz ao longo da projeção. No início, seus sapatos são feios, por mais que pareçam “chiques”, mas aos poucos, quando a personagem vai realmente se interessando pelo marido e mudando o caráter, os calçados vão ficando mais bonitos e alegres.

Relegado às salas de arte no Brasil e a poucos horários em grandes redes, "O Despertar de uma Paixão" é cinema com C maiúsculo, redondo, bonito, bem dirigido e intenso, capaz de causar várias reflexões sobre redenção, relacionamento, auto-conhecimento e conhecimento ao próximo. É daqueles filmes em que a platéia dificilmente sai sem algum tipo de sentimento forte. No caso deste colunista, a alegria.

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