"O Casamento de Romeu e Julieta"
por Marcelo Costa
Fotos - Divulgação

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21/03/2005

A história clássica da tragédia de Romeu e Julieta já recebeu milhares de versões em todo o mundo, tendo o próprio Shakespeare, a quem é creditada a autoria, se "inspirado" em Artur Brooke, que por sua vez havia adaptado para o inglês, em 1562, um texto em francês de Pierre de Boisteau de Launay, que também tinha traduzido do italiano Luigi da Porto, fonte mais antiga segundo os historiadores, que apenas colocou no papel uma história verídica que havia acontecido nos primeiros anos do século XIV, e que narrava a morte de um jovem casal apaixonado devido a desentendimentos de famílias rivais. Na versão do cineasta Bruno Barreto, a tragédia de Romeu e Julieta se transforma em uma boa comédia romântica.

Para ilustrar a rivalidade das famílias, Barreto fez de seu Romeu um corintiano roxo, e de sua Julieta uma palmeirense verde. Outros ingredientes foram colocados em campo: o pai de Julieta (Luana Piovani), Alfredo Baragatti (Luís Gustavo) é tão fanático pelo time que batizou a filha em homenagem aos ídolos palmeirense, "juli" de Julinho e "eta" de Echevarietta. Mais: o velho é um advogado descendente de italianos, e membro do Conselho Deliberativo do clube. Do outro lado, Romeu (Marco Ricca), é um médico oftalmologista de 45 anos que é corintiano roxo. Mais: ele é líder de torcida, daqueles que tentam animar todo mundo quando o placar está contra. Seu filho Zilinho (Leonardo Miggiorin) e a avó Nenzica (Berta Zemmel), também são corintianos fanáticos.

O grande dilema acontece quando Romeu e Julieta se apaixonam, mas são de torcidas rivais. Romeu ainda tenta se passar por palmeirense, e engana a família de Julieta, acaba se tornando sócio do Palmeiras e indo com o futuro sogro ver o Verdão perder a decisão do campeonato mundial de futebol em Tóquio. Acreditem: para um corintiano, vestir a camisa do adversário é um pecado (o mesmo acontece ao contrário, e em outros exemplos, como um flamenguista tendo que vestir uma camisa do Vasco, ou um cruzeirense usando uma camisa do Atlético Mineiro, e por ai vai).

Me lembro de uma vez, em que um grande amigo - palmeirense roxo - quis aproveitar da boa fase do time e me propôs uma aposta: clássico Corinthians x Palmeiras. Quem perder, usa a camisa do adversário. Por mais que o Timão estivesse caindo pelas tabelas, clássico de futebol é clássico de futebol, nunca existe favorito. Apostei. E ganhei. Vitória de 1 x 0. No fim de semana seguinte, na roda de amigos que bebia no Shopping Center em Taubaté, o assunto era: cadê o palmeirense vestido de corintiano. Quando ele apareceu, com a camisa que eu havia lhe dado para vestir, já estava bêbado e com a camisa aos farrapos, toda picotada em tesoura, mas vestida, com o símbolo aparecendo dignamente. "Nunca me senti tão mal", justificou. Depois, ele me deu uma camisa novinha, oficial, mas esse episódio apenas reforça a tragédia que é um torcedor vestir a camisa do time adversário, mesmo que seja por amor a uma mulher (e, vamos combinar, não é uma mulher qualquer: é a Luana Piovani).

O argumento é excelente. O Casamento de Romeu e Julieta foi escrito para todos aqueles que entendem (e conhecem) a paixão que um time de futebol pode causar em uma pessoa (Febre de Bola, de Nick Hornby, uma das inspirações de Bruno Barreto, é exemplar nisso). Marco Ricca e, principalmente, Luís Gustavo, dão um show de atuação. Em uma das cenas mais engraçadas, e torturantes, Romeu vai assistir ao clássico Palmeiras x Corinthians na torcida do Palmeiras, ao lado de Julieta e do pai dela. A cada gol do Verdão, o rapaz encolhe cada vez mais na arquibancada. Só falta chorar. Um dos pontos altos do filme é o bom roteiro, inspirado no livro Palmeiras: Um Caso de Amor, de Mario Prata, que faz parte da Coleção Camisa 13, que homenageia os grandes clubes do País. Prata desenha, em seu texto, torcedores românticos para ambos os times. Barreto transpôs isso para a tela, e o filme homenageia ambas as torcidas.

No entanto, não dá para falar que O Casamento de Romeu e Julieta seja um filme perfeito. Está beeeem longe disso. A rivalidade das torcidas poderia ser mais explorada, rendendo outras histórias cômicas. As cenas de futebol são amadoras e Mel Lisboa é totalmente desperdiçada, em um papel que mais parece estar ali para preencher um buraco na defesa. Assim como em Bossa Nova, outra boa comédia romântica, Barreto derrapa em pequenos detalhes de acabamento, que se não prejudicam o todo, também não permitem dizer que o filme seja excelente. No fundo, no fundo, é só uma boa comédia romântica. E isso já basta. É como vencer por 1 x 0 com gol de canela (ou de pênalti - roubado). Não é todo dia que se consegue golear o principal rival.


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