Traficc

por Juliano Costa

Relatos de dramas humanos relacionados ao tráfico de drogas. Fórmula gasta, não? Mas Traffic, filme vencedor de quatro merecidos Oscars, passa longe dos clichês e, com diferentes tramas intercaladas e convergentes, surpreende – até Catherine Zeta-Jones trabalha bem.

Um juiz de sucesso (Michael Douglas) promovido a Chefe Nacional do Combate ao Narcotráfico e com uma filha afogada em drogas pesadas; um policial mexicano (Benicio Del Toro) imerso no dilema de colaborar ou não com os cartéis do tráfico que atuam na fronteira com os Estados Unidos; e uma esposa (Catherine) que, apesar de grávida e sozinha com um filho pequeno, mergulha de cabeça na tarefa de tirar da cadeia o marido, um chefão da revenda de drogas do lado americano da fronteira. Esses são os três dramas principais do filme que, bem conduzidos por Steven Soderbergh, renderam-lhe o Oscar de Melhor Diretor (ele havia sido indicado também por Erin Brokovich – Uma Mulher de Talento).

Além desses, há ainda os dramas do policial negro (Don Cheadle), honesto e austero, que vê o colega, um 'chicano', morto pelo tráfico; o do parceiro de Del Toro (Jacob Vargas), que, pobre, rende-se à corrupção dos cartéis; e o da própria filha de Douglas (Erika Christensen), menininha bem tratada, destaque na escola e que, não subitamente, também adentra ao mundo das drogas, incentivada pelos amigos e aguçada pela curiosidade natural adolescente.

Ou seja, temos, reunidos em um só filme, (quase) todos os personagens ligados ao submundo das drogas, com seus dramas expostos de uma forma crua (às vezes caricata, mas, ok), e que buscam algo entre a felicidade e o sucesso. Fugir dos clichês seria, portanto e teoricamente, difícil, mas Soderbergh consegue, dando ritmo ao que poderia se tornar um melodrama, inclusive com uma edição bem peculiar, com cortes propositais de tomadas de câmera e uma fotografia de contrastes (da luminosidade do meio-dia no deserto ao interior de um tribunal frio e escuro). A edição do filme, inclusive, foi vencedora do Oscar.

Além da Melhor Edição e da Melhor Direção, Traffic também recebeu a estatueta dourada por Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator Coadjuvante (Del Toro). Prêmios justos a um filme que confirma o talento "independente" de Soderbergh, que ressuscita Michael Douglas, que mostra que Zeta-Jones também pode atuar e que, principalmente, prova que ainda se pode fazer filmes sem se fundamentar em clichês e conversinhas pra boi dormir.

Juliano Costa, 20, atesta que não se identificou com ninguém no filme. Fora isso, só responde na presença de seu advogado.