Os Excêntricos Tenenbaums
por Cláudia Ferrari e Marcelo Costa
Setembro / 2001

Como classificar um filme como Os Excêntricos Tenenbaums? Os jornais teimam em dizer que é um drama, mas ele fica bem distante disso. Também não é uma comédia pura e simplesmente. Talvez a melhor definição seja fábula para adultos, na linha de Quero Ser John Malkovich. Para completar a estranheza, o diretor Wes Anderson tem um jeito peculiar de dirigir, deixando na maior parte das vezes a câmera parada enquanto os atores se movem pelo set. 

O filme transcorre como se estívessemos lendo um livro. Cada capítulo tem o nome de um personagem, e até mesmo existe um narrador em off, a cargo de Alec Baldwin. O filme/livro conta a história da família Tenenbaum. Gene Hackman é Royal Tenenbaum, um charlatão que abandonou a mulher (Anjelica Huston, ótima como sempre) e três filhos (Ben Stiller, Gwyneth Paltrow e Luke Wilson), mas que resolve voltar para a família assim que acaba o seu dinheiro e que descobre que a sua ex-mulher recebeu uma proposta de casamento. Ethel (Huston) criou os filhos da melhor maneira possível, transformando-os em gênios adolescentes. Entretanto, nenhum deles terminou sendo um adulto feliz. 

Chas (Ben Stiller) era um ás das finanças que depois da morte da sua mulher ficou obcecado por segurança e virou um pai super-protetor. Margot (Gwyneth Paltrow) era famosa por suas peças, mas parou de escrever para ficar 6 horas por dia deitada numa banheira assistindo televisão. Por fim, Richie (Luke Wilson) era uma campeão de tênis que desistiu da carreira desde o casamento da sua irmã. Todos os personagens ganham profundidade nas mãos de Anderson. Assim, podemos até imaginar um coração dentro do peito do charlatão Royan (Hackman, impagável) como sentimos todo tédio do mundo em Margot (Paltrow, preenchendo sua beleza com olheiras e cara fechada) e os medos de Chas (Stiller, também excelente). 

Repetindo um antigo clichê, toda família tem seus problemas. Com os Tenenbaums isso não é muito diferente. No entanto, o filme procura mostrar que a solução para esses problemas não é tão óbvia. Ou melhor, o que era uma fonte de problemas pode também ser a chave para a sua solução.

Além de um roteiro nada óbvio e extremamente genial, Os Excêntricos Tenenbaums (The Royal Tenenbaums- 2001) traz uma trilha sonora impecável. A cena em que Richie encontra Margot pela primeira vez é emblemática: ela sai do ônibus e caminha em câmera lenta enquanto toca These Days com Nico (a musa do Velvet Underground). Está bem, esta não é a primeira vez que alguém filma uma cena de amor em câmera lenta, mas o efeito ficou muito bom. Em outra, Margot coloca um velho vinil para tocar. O ambiente é preenchido pelos Rolling Stones fase Brian Jones. Enquanto Margot e Richie conversam, rola She Smiled Sweety e Ruby Tuesday (alteradas na ordem do velho vinil Between The Buttons, em que são, respectivamente, faixas 5 e 3). Além de Nico e Stones pode-se ouvir Nick Drake, The Clash, Velvet Underground, Ramones, Elliott Smith, John Lennon, Bob Dylan... 

Outros itens que indicam o cuidado na produção são o figurino, o cenário e os personagens secundários. Cada personagem tem o seu jeito de se vestir e o estilo não muda mesmo quando eles se tornam adultos. 

Os cenários merecem um capítulo à parte. Parece que o filme se passa em outra época, tamanha a quantidade de tralhas que um dia foram qualificadas de "modernas". Os personagens secundários são hilários, o melhor deles é Pagoda, o auxiliar indiano de Gene Hackman. Preste atenção quando ele está em cena, mesmo que a ação não esteja focada diretamente nele.

Os Excêntricos Tenenbaumsfoge totalmente do padrão rigido holywoodiano. Quem pensa em ver o filme por seu excelente elenco não perde por esperar, já que o humor sutil nas atuações descaracteriza totalmente os atores, de forma incrivel e genial. Assim, Tenenbaums parece mais (o bom) cinema inglês do que (o fantasioso) norte-americano. E, se você ainda espera uma classificação entre drama, comédia ou coisa que o valha, aqui está: Os Excêntricos Tenenbaums é cinema, a sétima arte. Ponto final.