"Stars Wars, O Ataque dos Clones"

por Marcelo Costa
09/07/2002
maccosta@hotmail.com

Daqui a 200 anos, quando todos nós estivermos em uma outra dimensão (cada um que chame isso como quiser) ainda haverá gente conversando/discutindo/elogiando Star Wars. Longe de ser uma profecia, mas uma simples constatação vinda de um não fã da série que, sobretudo, é fã do bom cinema. 

Enquanto vários dos meus amigos colecionavam bonequinhos da série na infância, eu ainda nem tinha prestado atenção direito à saga de George Lucas. Um fim de semana, uns cinco anos atrás, não resisti. Peguei a trilogia na locadora e encarei Star Wars de frente. O resultado me surpreendeu. Gostei da saga mitológica (mitologia sim), de como as histórias se sucediam e, sobretudo, de como tudo era bem filmado e bem interpretado. Filme infantil para adultos (por favor, isso não é uma critica). 

No meio tempo em que eu descobria Darth Vader e os Jedis, o mago George Lucas saiu com a genial idéia de contar a história do começo e filmar três episódios que explicam porque isso e porque aquilo aconteciam nos episódios "antigos". Lucas apenas resolveu levar adiante a idéia da nova trilogia em 1994, quando considerou que a tecnologia de realização de filmes já havia se desenvolvido o bastante para poder fazer o filme exatamente como queria. 

O primeiro episódio da série, Ameaça Fantasma, estreou nos cinemas em 1999 e logo abocanhou uma vaga entre os filmes de maior bilheteria de todos os tempos. Neste episódio, o temível Darth Vader ainda não existe, mas sim o garoto Anakin Skywalker, de apenas 9 anos de idade, que sonha se tornar um cavaleiro Jedi. Ele é encontrado por Qui-Gon Jinn e Obi-Wan Kenobi quando a nave em que se viajam apresenta problemas, e eles são obrigados a pousar no planeta Tatooine. A partir de então, o trio, mais a rainha Amidala, passam a lutar em conjunto para evitar a conquista do planeta Naboo.

Corte rápido e chegamos ao segundo episódio da série, O Ataque dos Clones. Dez anos após a tentativa frustrada de invasão do planeta Naboo, Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor), Anakin Skywalker (Hayden Christensen) e Padmé Amidala (Natalie Portman) estão juntos novamente. Neste período de tempo, Obi-Wan passou de aprendiz a professor dos ensinamentos jedi para Anakin, sendo que ambos foram destacados para proteger a agora senadora Amidala, que tem sua vida ameaçada por facções separatistas da República, que ameaçam desencadear uma guerra civil intergalática. Com o passar do tempo surge um romance proibido entre Anakin e Amidala, pois os cavaleiros jedi não têm permissão para se apaixonarem.

Esse romance proibido é o mote do segundo episódio. Amidala recusa o amor de Anakin até o momento em que acredita estar prestes a morrer e, para não levar o amor guardado no peito para o tumulo, declara-se ao jovem jedi. No fim, todos salvos, por enquanto, afinal, essa proibição de que um cavaleiro jedi se apaixone desencadeará toda história que transformará Anakin em Darth Vader, mas ai já estamos adiantando a carroça a frente dos bois. A oscilação da racionalidade de Anakin é o grande trunfo do filme, influenciando principalmente a cegueira de Amidala, que não percebe como o amado tem um lado negro forte dentro de si (em uma cena representativa, Anakin defende a ditadura frente a senadora democrata Amidala, que encerra a conversa rindo, acreditando que o jedi estava brincando. Não estava). 

Artisticamente, a tela de O Ataque dos Clones é uma pintura, principalmente na parte do exército de clones (de "orgulhar" o Aldous Huxley de Admirável Mundo Novo). A confrontação de mundo primitivo com mundo tecnológico, característica básica de toda obra Star Wars, também choca ao mesmo tempo que faz pensar (naves velozes, armas poderosas, gente passando fome, desertos e desertos). 

Stars Wars, O Ataque dos Clones é uma bela obra cinematográfica. Não surpreende o espectador em termos intelectuais, mas prende ao contar de forma genial uma história que todo mundo já sabe de trás pra frente, e isso, no mundo moderno em que todos tem pouco tempo e pouco dinheiro, é um mérito e tanto (vide a bilheteria arrasa quarteirão de US$ 80 milhões na primeira semana e R$ 270 milhões até a estréia no Brasil). Também não bate a trilogia inicial, o que deve incomodar alguns fãs, mas o propósito aqui é apenas contar uma história e nisso Lucas se sai bem.

Se alguém viver até 2202 (tem gente que nasceu há 10 mil anos atrás), arranje uma forma de me contar se o cinema conseguiu criar uma história tão mitológica, inteligente e financeiramente lucrativa quanto Star Wars. Ou se usou a magia destes seis primeiros episódios (agora só falta um) para estender a seqüência dos jedi ao infinito. Eu fico com a segunda hipótese.