Homem-Aranha

por Angélica Bito
24/05/02

O tão esperado dia chegou. Homem-Aranha, o longa que dá vida a um dos mais adorados heróis dos quadrinhos, finalmente chega às telonas brasileiros, prometendo ser um arrasa-quarteirão, como foi nos EUA. O Homem-Aranha arrebanhou uma verdadeira legião de fãs no mundo todo, de todas as idades e nacionalidades. Isso porque o personagem criado por Stan Lee em 1962 é muito mais humano do que os outros, como Super-Homem ou Batman (que também tiveram suas aventuras na telona). Apesar de seus super-poderes, o Homem-Aranha sangra, se machuca, tem suas roupas rasgadas, como qualquer outro ser humano. Antes de ser o protetor mascarado de Nova York, o herói aracnídeo já era o garoto Peter Parker, nerd e alvo dos colegas de escola. Figura nada incomum na vida real, muito pelo contrário.

A caprichada produção, assinada pelo fã e diretor Sam Raimi, é um deleite para aqueles que, ao longo destes quarenta anos de existência do herói aracnídeo, tiveram que se contentar com fracas e toscas adaptações de suas aventuras para o vídeo. Pela primeira vez, eles podem ver com clareza e, por que não?, perfeição a agilidade do Aranha pelos arranha-céus de Nova York.

No entanto, mais do que agradar aos ávidos fãs, Homem-Aranha deve agradar também àqueles que não acompanham suas aventuras. Isso porque o filme situa a história, explicando como Peter Parker adquiriu seus poderes e como ele passou de um garoto franzino e impopular para o maior herói de Nova York.

Paralelamente, o filme também conta o surgimento de seu vilão nesta adaptação. Afinal, o empresário Norman Osborn não virou Duende Verde da noite para o dia, muito pelo contrário. Enquanto Parker virou herói após ser picado por uma super-aranha geneticamente modificada, Osborn – que, até então, também era um homem normal – se propôs ser cobaia de uma substância na qual sua empresa trabalhava e, como efeitos colaterais nada fracos, desenvolveu uma segunda personalidade. De um lado, o Norman Osborn de sempre, pai de família e empresário. De outro, o vilão Duende Verde, que faz de tudo para defender sua empresa e interesses, inclusive destruir metade da cidade. Os dois são inimigos quando estão de mascara, mas amigos sem ela, já que Parker é o melhor amigo do filho de Osborn, Harry.

De fã para fã

Tanta fidelidade tem um motivo: Sam Raimi. Ele foi o diretor escolhido, e ninguém melhor para fazê-lo, já que colocou em Homem-Aranha a visão do profissional e, principalmente, do fã, agradando aos apaixonados pelo personagem e, também, aos apaixonados pelo cinema como arte.

Ter cuidados com o visual e com efeitos especiais é essencial em uma produção deste porte. No entanto, a atenção à escolha do elenco deveria ser redobrada, pois fracas atuações, mesmo que amparadas por efeitos especiais mirabolantes, só teriam a contar pontos negativos ao filme. Sorte de Raimi que a escolha do elenco foi tão feliz. Assim, seu nome não é jogado na lama, muito pelo contrário: é alçado às alturas. Encabeçando o time de atores temos Tobey Maguire como o herói aracnídeo. Devemos admitir que Maguire não tem cara de super-herói. Mas, quem disse que o Homem-Aranha tem? E foi exatamente isso que Raimi quis passar ao escolhê-lo. O Aranha é um cara comum que se tornou herói e, para interpretar esse cara comum, nada melhor do que um ator com fisionomias comuns, como Maguire. Talentoso e jovem, ele conseguiu imprimir no olhar a confusão que se passa na cabeça de seu personagem - um garoto comum que adquire superpoderes da noite para o dia -, a segurança de um super-herói e a paixão nutrida pela ruivinha Mary Jane. Isso sem contar o bom humor que o Homem-Aranha carrega desde os quadrinhos, presente também na atuação de Maguire.

O mesmo pode dizer de Willem Dafoe como Norman Osborn/ Duende Verde. Depois da desastrosa experiência, o personagem, que antes era até um cara normal, teve sua personalidade dividida entre dois pólos extremos. Dafoe consegue passar muito bem essas variações de humor que passou a ter, sendo, ao mesmo tempo, o pavoroso vilão e o pai dedicado. Kristen Dunst como Mary Jane, no entanto, não convence o suficiente. Mary Jane é a musa do super-herói e, no filme, falta algo: talvez carisma, simpatia ou beleza. Não é dúvida que Kirsten é uma das mais belas atrizes de sua geração, mas a impressão que dá a cada vez que ela aparece em cena é que falta algo.

Um ator que se revela em Homem-Aranha e deve alcançar o estrelato depois deste filme é o belo James Franco, que vive Harry Osborn, elo de ligação mais forte entre os dois inimigos do filme, como o filho mimado de Norman Osborn e o melhor amigo de Peter Parker. O reconhecimento vem aos poucos: neste ano, Franco recebeu o Globo de Ouro por sua atuação no filme feito para a TV "James Dean", no qual vive o jovem ator, morto precocemente, que dá nome à produção.

A tecnologia é fundamental

Mas não adianta ter as roupas perfeitas e os atores ideais. Uma das principais características que esse herói tem nos quadrinhos é a agilidade com a qual ele passeia, suspenso por suas teias, entre os prédios de Nova York. Mesmo que, com a ajuda de cabos, Raimi conseguisse fazer Tobey Maguire voar, de nada adiantaria se a câmera o perseguisse de modo estático. E não é isso que acontece. À medida que o Homem-Aranha voa entre as paredes, tetos e becos da cidade, a câmera o persegue de modo extraordinário, deixando boquiaberto qualquer espectador, por mais incrédulo que seja. Mais um ponto positivo à adaptação: Raimi conseguiu levar à telona toda essa mobilidade do aracnídeo, transportando o espectador diretamente para dentro do filme. Em algumas horas, a câmera assume os olhos do espectador ao perseguir o herói pela cidade. Em outras, assume o ponto de vista do próprio herói ao sobrevoar, a toda velocidade, as movimentadas ruas de Nova York.

O fato é que Raimi nunca conseguiria esse efeito fantástico nas telas sem a ajuda dos efeitos especiais utilizados neste filme. Imagens filmadas e animações computadorizadas foram usadas juntas para colocarna tela a agilidade do Homem-Aranha e do Duende Verde que, sobre o seu planador, sobrevoa de muito alto a cidade. O mesmo acontece com a percepção aracnídea adquirida por Peter, junto de seus outros superpoderes. Em algumas horas, a câmera adquire a velocidade necessária para acompanhar nosso herói em suas acrobacias. Em outras, ela fica em câmera lenta para denotar os sentidos, aguçados como de um aracnídeo, do Homem-Aranha. No fim das contas, aproximadamente 500 tomadas do filme foram finalizadas por computadores, comandados pelo desenhista de efeitos visuais John Dykstra e sua equipe.

Além de dar vida a um dos mais venerados heróis, Homem-Aranha é uma adaptação fiel, caprichada e, principalmente, muito bem caracterizada das aventuras que, até agora, eram imaginadas com perfeição somente nos quadrinhos.

Apesar de contar com muita tecnologia e efeitos especiais, eles não "brigam" com o roteiro, atores ou mesmo o visual do filme. Muito pelo contrário, todos esses aspectos se complementam, fazendo com que Homem-Aranha não seja somente uma fiel adaptação das histórias em quadrinhos. Mais do que isso, é um presente aos fiéis fãs do aracnídeo que, por tanto tempo, esperaram pelo dia no qual veriam, de carne e osso, o Homem-Aranha passeando entre os arranha-céus e becos escuros de Nova York.


Bastidores

Muito antes de Homem-Aranha sair do papel, diversas disputas marcaram a produção do filme. A começar pela verdadeira batalha judicial que antecederam a produção. Entre os envolvidos, estavam a 20th Century Fox, a Sony, a Marvel, a MGM, a 21st Century Film Corporation, a Viacom e a Carolco. Após uma longa disputa, os direitos da adaptação ficaram com a Marvel e a Sony.

Definidas as empresas que fariam as adaptações, o nome que comandaria as filmagens deveria ser escolhido. James Cameron, Ron Howard, Steven Spielberg, Chris Columbus e David Fincher são alguns dos cineastas que chegaram a ser cotados e, enquanto os direitos cinematográficos de Homem-Aranha ainda estavam sendo disputados na Justiça americana, James Cameron fez um resumo com 57 páginas de como seria o filme caso ele fosse o diretor. Em sua versão, o vilão do filme não seria o Duende Verde, mas sim Electro. A escolha de Raimi deve ter sido um soco no estômago do poderoso diretor de Titanic... Por falar em Titanic, o herói dessa megaprodução, Leonardo DiCaprio, foi um dos nomes cotados para viver Peter Parker em carne e osso, além de Ben Affleck, o galã dos filmes adolescentes Freddie Prinze Jr., Heath Ledger,Jude Law e até Ewan McGregor, além de James Franco, que acabou ficando com o papel de Harry Osborn. Tobey Maguire, o escolhido, recebeu "somente" um cachê de US$ 4 milhões.

A caracterização do herói de do vilão foi trabalhada por muito tempo antes de os visuais ficarem prontos. Só o colante do Homem-Aranha demorou seis meses para ficar pronto. Engana-se quem acha que o uniforme usado pelo Homem-Aranha no filme é simples. A roupa é baseada na tensão em uma única peça, das botas até o topo da cabeça, com mais de 120 silk-screens individuais na roupa, para sombra e realce. A teia foi moldada em látex e tingida, mas o desenho foi cortado por computador. Equipes colaram e pintaram à mão a teia com vários acabamentos metálicos. Foram criadas 24 fantasias de Homem-Aranha, incluindo algumas que foram alteradas para dar a impressão de estragadas e amassadas, como pedia a história. A roupa do Duende Verde não é menos complexa, muito pelo contrário: são cerca de 65 peças esculpidas na roupa, feita em vinil verde perolado. Além disso, há aproximadamente mil peças separadas no traje fluorescente, porque o vinil recebeu uma camada de tinta perolada. A máscara é feita de plástico e fibra de vidro, cromo e depois pintada.

Sobre a pós-produção, a estimativa é que 500 tomadas, aproximadamente, foram finalizadas por computador. Para se ter uma idéia do trabalho da Sony Imageworks, praticamente todos os carros presentes nas cenas filmadas nas ruas de Nova York foram removidos na pós-produção e substituídos por modelos digitais. Toda essa trabalheira acabou adiando sua estréia. A intenção inicial da Sony era lançar Homem-Aranha nos cinemas em novembro de 2001, mas o lançamento foi adiado para maio de 2002. A caprichada pós-produção acabou elevando os custos, cotados em, aproximadamente, US$ 139 milhões.