Assassinato em Gosford Park

por Marcelo Costa

Robert Altman é um daqueles diretores que ou você ama ou você odeia. Eu, sem dor nenhuma no coração, faço parte do segundo grupo. Nunca vi muita graça, nem genialidade, nem sei lá mais o quê no cinema deste norte-americano e um filme novo dele é algo que sempre encaro com os dois pés atrás.

E foi assim, completamente temeroso, que entrei em uma sessão de Assassinato em Gosford Park (Gosford Park), quase a meia-noite de um sábado para domingo, imaginando longos cochilos e possíveis roncos.

E não é que o filme é muito bom!

A primeira linha que tinha lido sobre Gosford Park dizia que o filme era lento. Não é. Os diálogos são tão rápidos que um abaixar de cabeça (ou um beijo na pessoa ao lado) podem lhe custar uma peça no quebra-cabeças da trama. Não à toa, levou melhor roteiro original no Oscar 2002 (embora seja injusto Amnésia ter perdido). A história renderia uma guerra. É um típico olhar norte-americano sobre a divisão de classes britânica. Alias, o filme é todo britânico. Do humor, passando pelo cenário e englobando 95% do elenco.

Assassinato recria com magia e elegância a Inglaterra dos anos 30. A história se passa na mansão Gorford Park, em um fim de semana de 1932 que reúne a aristocracia da época para caçar, festejar e "presenciar" um assassinato. Na mesma mansão, sob o mesmo teto, pessoas iguais são diferenciadas: acima, lordes e ladies, abaixo, os criados. E que Deus abençoe a todos (e que os lordes não me leiam). E que a escuridão da noite esconda a "aproximação" das classes.

Quando se apropria dessa linha, Altman acerta em cheio. As confusões entre criados, a admiração dos patrões, o pouco caso destes, as rivalidades, o modus operandi da vida dos ricos, tudo soa acidamente crítico. Um pouco abaixo surge a pretensa história de mistério a lá Agatha Christie, o tal assassinato que, em segundo plano, acaba por não chamar tanto a atenção, apenas complementando um belo roteiro e rendendo algumas risadas.

Maggie Smith se destaca na constelação de estrelas. Impossível não se divertir com sua Condessa Constance de Trenhtahm, sutilmente acida, merecedora do Oscar arranjado para Jennifer Connely (por Uma Mente Brilhante, em que ela atua como Atriz Principal). No fim, entre morto, ricos e criados, salvam-se os espectadores com um belo drama de época, crítico na medida exata. E eu não dormi, nem ronquei.