Um Estranho Chamado Elvis
(Finding Graceland)
Por Marcelo SIlva Costa

Elvis inspirou muitas canções. Elvis inspirou muitos livros. Elvis inspirou muitos filmes. Elvis inspira muita gente a ser achar Elvis. Eu mesmo tenho um amigo que jura ser Elvis. Ele é o Elvis. Mas vai ter que brigar muito com outro cara que acaba de chegar as locadoras se achando o Elvis do momento: Harvey Keitel em "Finding Graceland" (Um estranho chamado Elvis).

Um papelão na mão mostra o destino: Graceland. Elvis quer voltar para cara e precisa de uma carona. Na estrada, um jovem passeia com suas mágoas, sua dor e um cadillac sem porta. O encontro desses dois personagens é a história de "Um estranho chamado Elvis". Elvis acha que é Elvis. É claro que o jovem não acredita que Elvis seja um cara parecido com, digamos, o ator que fez "Pulp Fiction". Mesmo assim o destino, acaso, ou seja lá o que for, coloca os dois a caminho de Memphis, ao encontro de seus destinos, acasos, ou seja lá o que for. No trajeto, muitas passagens hilárias e, pelo menos, uma antológica: o momento em que Elvis encontra, em um cassino, uma sósia de Marilyn Monroe. Marilyn Monroe é, nada mais nada menos que Bridget Fonda. Aliás, na hora em que ela tira sua "fantasia" de Marilyn faz a gente pensar em quem precisa de Marilyns Monroe no mundo, se existe Bridget Fonda.

E é o personagem de Bridget que o responsável pela frase do filme quando diz que "Todo mundo precisa de um guia, seja ele Jesus, Buda, ou Elvis". Por essa ótica, e relembrando outro grande filme do ano passado que dizia que as coisas simplesmente acontecem (Magnólia), não é que não exista acaso ou destino; as coisas simplesmente acontecem. E ficar pensando muito nos desvia de outros acontecimentos, nos coloca a margem, nos tira do caminho. E o caminho de Elvis e do jovem é Memphis, sem dúvida.

"Um estranho chamado Elvis" é um típico filme de sessão da tarde. Não é clássico, não é obrigatório, não é magistral. É apenas simples e bacana no que o cinema tem de melhor: despretensão. Quem é fã do homem vai adorar, afinal, Priscilla Presley gostou tanto da história que resolveu ser uma das produtoras executivas do filme. E para aqueles que, assim como eu, nunca quiseram ser Elvis, o filme é desaconselhável em um único ponto: você vai querer ir a Graceland. É inevitável. Se você tem uma gotinha de sangue roqueiro correndo em suas veias, ir a Graceland uma vez na vida é obrigatório. Eu já anotei em meus planos.
Quem sabe um dia eu não pare numa esquina com uma placa escrita "Graceland" ...

Marcelo, 30, é editor do zine de cultura pop Scream & Yell e dedica esse texto ao sócio, amigo, e Elvis: Alexandre Petillo.