A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça

Por Marcelo Costa
Setembro/1999

Tim Burton está de volta! E é tão estranho isso. Vamos lá, conte nos dedos quantos diretores, hoje, possuem uma marca? Vivemos num mundo em que os atores começam a ser mais importantes que o roteiro, que o próprio filme. Os filmes se moldam, então quando a gente vai assistir um novo filme de Julia Roberts (e tantos outros) já sabe o que esperar. Então festeje, aqui é cinema de diretor.

Quem conhece o "estranho mundo" de Tim Burton também já sabe o que esperar. Se você riu das bizarrices de Marte Ataca! e se emocionou com a estranheza de Edward Mãos de Tesoura, tem tudo para gostar de A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça. É diversão garantida e condensa tudo aquilo que é marca registrada de Burton: esquisitices, fantasias, deboches, efeitos especiais geniais, visual de quadrinhos e, junto a tudo isso, uma história de amor. Aliás, depois que aparece o nome de Francis Ford Coppola nos créditos (direção executiva) é impossível não traçar um paralelo deste a A Lenda com o Drácula de Coppola. Cenários e histórias se completam. Mas se o "herói" daquele buscava sua amada, esse apenas quer a cabeça de volta.

Mas vamos ao começo. Johnny Deep, que já havia trabalhado com Burton em Edward e Ed Wood, é Ichabod Crane, detetive encarregado de ir à Sleepy Hollow, cidade em que cabeças estão rolando, e sumindo. O detetive de Deep é totalmente caricato, um passo do cômico. Enfrenta cavaleiros e briga por justiça, mas tem medo de uma aranha. Traz a luz a briga maior do século 18: razão versus religião. E sonha, como sonha. Ao chegar a cidade é hospedado na casa dos Van Tassel e, de entrada, ganha um beijo da filha do anfitrião, numa daquelas brincadeiras de olhos vendados. A filha do anfitrião é Katrina (Christinna Ricci) e o olhar dela encanta como o olhar de uma fada (ou de uma bruxa, você escolhe) mas não há tempo, afinal lá fora existe um cavaleiro decepando cabeças.

A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, inspirado em um conto antigo de Washington Irving, é uma mistura de conto de terror com história de amor e pitadas de comédia. O espectador se assusta e se diverte. É o estilo básico do cinema de Tim Burton, essa caracterização excêntrica dos personagens que parecem realmente estarem vivendo uma história, um conto, um filme, um sonho, um pesadelo, e não a vida real. Essa descaracterização tem base no "nonsense" que, no melhor exemplo, é o mundo de Marte Ataca. O resultado disso é diversão, e das boas.

A lenda ainda traz vários atores bacanas como Christopher Walken (impagável como Cavaleiro) e Christopher Lee e é uma aula de cinema extremamente pop com o intuito único de entreter e divertir. Divirta-se, mas cuidado com a sua cabeça.

Marcelo, 29, é um dos editores do zine Scream and Yell e, pelo que acha, está com a cabeça no lugar ... mas não garante.