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Ouvindo: “Mermaid Avenue: Complete Sessions”, Billy Bragg and Wilco

Durante a primavera de 1992, Nora, a filha de Woody Guthrie, o cara que no auge do macarthismo norte-americano ousava tocar com um violão que trazia estampada a frase “essa máquina mata fascistas”, convidou o cantor e compositor inglês Billy Bragg para escrever músicas para uma seleção de letras inéditas de seu pai. Bragg havia se apresentado em um concerto em homenagem a Guthrie no Central Park, em Nova York, e Nora fez a conexão por acreditar que aquele britânico defendia os mesmos ideais que seu pai. Woody Guthrie havia deixado mais de mil letras inéditas completas escritas entre 1939 e 1967, e como ele não escrevia música em partitura, nenhuma dessas letras tinha melodia, e apenas uma vaga notação estilística. Nora queria que uma nova geração se apossasse das letras criticas de seu pai, e Billy Bragg aceitou o desafio, convocando para a tarefa o grupo Wilco, de Chicago, que havia acabado de lançar “Being There”, seu segundo álbum pouco antes (curioso que Nora também ofereceu o material de seu pai a Jay Farrar, parceiro de Jeff Weedy, do Wilco, no Uncle Tupelo – Farrar lançaria sua versão em 2011, “New Multitudes”). Lançado em 1998, “Mermaid Avenue” arrebatou uma indicação ao Grammy e muitos fãs tanto quanto colocou “California Stars” no repertório do Wilco. Este pacote reúne os três volumes das “Mermaid Avenues”. O segundo disco saiu em 2000 e o terceiro neste pacote com as sessões completas em 2012 acrescido do DVD que registra a produção, “A Man In The Sand”, de 1999. São 47 faixas emocionantes, algumas delas contando com a participação de Natalie Merchant (como “I Was Born”, do volume 2, com Natalie sendo acompanhada ao violão por Bragg). Entre as minhas favoritas estão “Secrets Of The Sea”, uma canção totalmente Wilco do segundo volume, o single “She Cames Along To Me” (totalmente Billy Bragg, um cara que admiro pacas), a declaração de amor a “Ingrid Bergman” e, claro, “All The Fascists”, uma letra atualíssima que diz que “todos os fascistas estão fadados a perder / O ódio racial não pode impedir / Pessoas de todas as cores marchando lado a lado / Marchando por esses campos onde um milhão de fascistas morreram”. Afinal, fascistas não passarão! <3

outubro 30, 2018   No Comments

Wilco: a reedição do álbum “Being There”

Segundo disco do Wilco, que abriu as portas do alternative country para a turma de Jeff Tweedy quando lançado em 1996, “Being There” ganhou uma reedição quíntupla em 2017 com um material raro vastíssimo. Esse é o tema do Scream & Yell Vídeos abaixo!

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março 31, 2018   No Comments

Nós queremos uma vida boa

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Em 2012, sob comando do Luiz Espinelly, algumas pessoas se reuniram em torno de “Yankee Hotel Foxtrot”, do Wilco, para um tributo. Além das canções (eu participei do coro em “Reservations” com vários amigos especiais – obrigado Giancarlo pelo convite ?), colaborei no encarte, que traz vários textos de amigos sobre cada uma das canções do álbum. A mim coube “Ashes of American Flags”, e saiu isso ai logo em seguida (aproveita e baixa disco).

“Quando você chega aqui já passou por um emaranhado de emoções e sentimentos que fazem o coração apertar e a alma levitar. “Ashes of American Flags” é o meio de Yankee Hotel Foxtrot, e tanto Jeff Tweedy quanto Jay Bennet devem ter pensado na canção como um respiro. A bateria é lenta e seca. A guitarra cheia de efeitos é distante. E a letra é simples e bela buscando poesia em coisas simples como caixas de banco e máquinas automáticas que nos abastecem de coca-cola diet e cigarros por 3 dólares e 63 centavos. Tweedy mostra que sente o peso do mundo em suas costas quando percebe que as pessoas não prestam atenção no que realmente importa, ou se prestam, não dão a mínima. Uma professora minha do colegial, que todos temiam, em sua primeira aula definiu: “Vocês precisam aprender a olhar, não apenas ver; a falar, não apenas dizer; a ouvir, não apenas escutar”. Tweedy lamenta: “Me pergunto por que ouvimos os poetas quando ninguém dá a mínima”. Porém, o grande momento de “Ashes of American Flags” surge no refrão, quando o interlocutor defende as mentiras sinceras (que interessam a muita gente) e diz: “Eu devia morrer… se eu pudesse renascer novamente”. Quem nunca? Woody Allen diz, em “Annie Hall”, que a vida é um fardo que infelizmente passa rápido demais. Outro diz que “viver é acumular tristezas”. Tweedy não disfarça o desejo de boa parte dos vivos: “Nós queremos uma vida boa”. Mas ele sabe que esse desejo é apenas uma forma de amaciar o sofrimento, porque o sofrimento faz parte de nós tanto quanto os glóbulos brancos, as plaquetas e os leucócitos. O que precisamos para levar a vida adiante são pequenas amostras de felicidade, passatempos como uma brisa fresca, um céu brilhante, um cachorro dormindo ao sol, uma criança sorrindo, uma canção. Somos seres imperfeitos, e como escreveu Salman Rushdie certa vez, “a música nos mostra um mundo que merece os nossos anseios, ela nos mostra como deveriam ser os nossos eus, se fôssemos dignos do mundo”. Assim como na poesia, a música nos permite morrer e renascer. Algumas pessoas não dão a mínima pra isso, mas eu, Jeff Tweedy e, acredito, você precisamos de música como ar para respirar. Seguimos (a vida e o disco) cantando”.

Baixe aqui o tributo e os textos: https://goo.gl/UImNQz

outubro 14, 2016   No Comments