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Dylan com café, dia 41: “Love and Theft”

Bob Dylan com café, dia 41: Nem a enorme quantidade de críticas elogiosas, nem os três Grammy’s e muito menos o número 10 na Billboard (o primeiro Top 10 de Dylan desde “Slow Train Coming”, de 1979) conquistado por “Time Out of Mind” (1997) satisfizeram Bob em relação à produção de Daniel Lanois, que ele resume no livro “Crônicas” como “turbulenta”. Ele também havia ganhado um Oscar em 2000 pela canção “Things Have Changed”, do filme “Garotos Incríveis”, e mesmo chegando aos 60 anos (em 24 de maio de 2001), não estava pensando em desacelerar. Muito pelo contrário: em seu novo disco, Dylan assumiria os riscos da produção (assinada com o codinome Jack Frost), que contaria com sua banda da Never Ending Tour e a busca sonora por algo mais leve e animado, mas como com Dylan nada é tão simples, “Love and Theft” foi lançado no fatídico 11 de setembro de 2001.

O crítico da Village Voice foi certeiro: “Se ‘Time Out of Mind’ era seu álbum sobre morte – não era, mas você sabe como as pessoas dizem que é – este é sobre imortalidade”. Fazia muito, muito tempo, que Dylan não soava tão à vontade em um disco cantando novas canções com ecos de jazz, blues, rockabilly e New Orleans, como na acelerada faixa de abertura, que desloca os personagens “Tweedle Dee & Tweedle Dum” de “Alice Através do Espelho”, de Lewis Carrol, para uma festa de Mardi Gras: “Eles estão pegando um bonde numa rua chamada desejo”, sarreia na ideia “Amor e Roubo” do disco (utilizada em diversas faixas). O clima muda totalmente na segunda canção (algo que se seguirá metodicamente até o fim do disco), “Mississipi”, uma suave recriação de uma sobra de “Time Out of Mind” que Dylan dizia que Lanois insistia em lotear de percussão, mas Bob a queria mais simples (antes de chegar aqui, inclusive, ela foi lançada num disco de Sheryl Crow). Já o rockabilly “Summer Days” provoca: “Não se pode repetir o passado… é claro que se pode!”. O clima volta a arrefecer elegantemente em “Bye and Bye”, se torna grandioso no blues de Chicago “Lonesome Day Blues”, baixa a guarda novamente no swingzinho de “Floater” até abrir as portas para uma das grandes canções do disco, a caipiríssima “High Water (For Charley Patton)”. Dylan segue batendo suavemente (“Honest With Me”, “Cry A While”) e assoprando (“Moonlight”, “Po’ Boy”, “Sugar Baby) num álbum elegante, primeiro volume de uma trilogia que se seguirá com “Modern Times” (2006) e “Together Through Life” (2009), mas isso já é assunto para outros cafés.

Ps 1: uma versão deluxe do álbum ganhou um segundo CD com duas então raridades: “I Was Young When I Left Home”, gravada em Minneapolis em dezembro de 1961, surgia pela primeira vez, mas será oficializada também no volume 7 das Bootleg Series. Já o take alternativo de “The Times They Are a-Changin'”, datado de 23 de outubro de 1963, nunca havia sido editado, e só consta deste lançamento. É uma versão mais lenta, menos militante e mais introspectiva do hino que deu nome ao terceiro álbum de Bob.

Ps. 2: O box triplo “The Bootleg Series Vol. 8 – Tell Tale Signs” exibe três versões diferentes de “Mississipi”, todas das sessões “Time Out of Mind”. Adoro a versão 3, para mim, a com melhor vocal de Dylan, mas a 2 também é bem interessante, e as três soam bem diferentes do floreio que Bob acrescentou à versão final presente em “Love and Theft”. Esse box ainda traz versões ao vivo de “High Water (For Charley Patton)” (bem guitarreira e muito próxima da versão mostrada no Brasil em 2008) e “Lonesome Day Blues”.

Ps. 3: “Love and Theft” foi ainda mais longe do que “Time Out of Mind” nas paradas batendo na 5ª posição do ranking da Billboard. O álbum também ganhou um Grammy na categoria de Melhor Álbum Folk de 2001.

Especial Bob Dylan com Café

abril 10, 2018   No Comments