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Entrevista: Fanzine Scream & Yell em pauta

Bate papo com Rodrigo Lariú, da Midsummer Madness, para esse especial com todos os fanzines Scream & Yell escaneados para ser lidos online

Quando saiu o nº 1 (do fanzine Scream & Yell em papel)? No final do nº 2 diz que saiu dois anos antes, ou seja em janeiro de 1997… e você cita o João Marcelo que aparentemente faleceu… o que houve?
O número 1 não chegou a sair. Nós montamos ele inteiro (eu escrevi e decidi pautas com o João Marcelo, que diagramou com a ajuda de uma amiga) e deixamos espaço para eventuais publicidades, aquele coisa de vender uma tirinha pro cara da padaria, fazer uma permuta com o cara do xerox por outra tirinha, essas coisas. No meio desse processo, o João sofreu um acidente de moto e não resistiu. Eu decidi engavetar o projeto. Acontece que nós tínhamos distribuído alguns exemplares dessa versão teste (ainda com espaço pra anúncios vazio) para amigos, e essa versão começou a circular, algumas pessoas tiravam cópias e passavam adiante. Uma dessas versões caiu nas mãos do Alexandre. Ele estudava na Faculdade de Direito da Unitau, em Taubaté, e eu trabalhava na Biblioteca de lá. Um dia ele chegou com uma cópia dessa edição número 1 nas mãos e propôs me ajudar a fazer novamente. Relutei, mas um tempo depois decidimos tentar.

O Petillo sempre foi co-editor?
Sim, a partir do número 2. A gente decidia as pautas juntos, o que cada um deveria fazer, pensávamos em colunas fixas e chamávamos amigos. Tive a ajuda de uma amiga na diagramação (a mesma que desenhou o número 1), que me ensinou o básico de Pagemaker. Do três em diante eu passo a fazer a diagramação sozinho, com uns helps dela.

Na capa do 5 vocês colocaram Taubaté – agosto e setembro de 2000.. Não morava em SP pelo visto…
Na verdade a capa da edição 5, com o Kevin Smith, traz apenas “Taubaté – Agosto e Setembro”, mas não colocamos o ano, que no caso era 1999. Mudei para São Paulo no meio do ano seguinte, 2000. Deu tempo de fazer a sexta e última edição, com Jerry Lee Lewis na capa, que saiu em março de 2000.

Você lembra quantas cópias imprimia? Era xerox né?
As cinco primeiras foram xerox sim, e a média foi subindo. Da edição 2 circulou umas 300 cópias; a edição 3 foi algo em torno de 350. A edição 4 manteve isso e a edição 5 acho que chegou em 500. A edição derradeira, a 6, foi feita em gráfica com ajuda de alguns amigos que trabalhavam lá. Fizemos no horário livre deles e imprimimos 1000 cópias. Foi a única que não foi feita no modelo xerox.

No editorial diz publicação bimestral sobre rock… era bimestral mesmo?
Era a ideia inicial, mas a gente não tinha tanta grana sobrando assim e também tinha toda dificuldade da diagramação. Mas foi quase bimestral. No fim das contas ficou assim: edição 2 em jan/fev de 1999; edição 3 em março e abril de 1999; edição 4 em junho de 1999; edição 5 em agosto e setembro de 1999; e a edição 6 em março de 2000. E tiveram três informativos de A4 frente e verso nos intervalos entre as edições 4, 5 e 6.

O zine impresso teve apenas 6 edições? É isso? Não sei por que eu tinha a impressão de que eram mais…
E tiveram três informativos de A4 frente e verso nos intervalos entre as edições 4, 5 e 6, que circularam bem. Talvez a confusão venha dai. Mas foram apenas seis edições, e foi intenso (risos). Acho que aquele momento de virada de século foi muito produtivo. Eu recebia fanzines de todos os cantos do Brasil, muitos deles dando de 10 no que a grande mídia estava publicando sobre cultura pop. Nessa época rolou a Mostra de Cultura Independente, na Funarte, organizado pela Deborah Cassano e Megssa Fernandes em outubro de 2000. Eu já havia vindo a São Paulo para uns encontros fanzineiros, mas aquilo ali foi sensacional. Grandes shows (Hang The Superstars, Fishlips, Dominatrix, Sala Especial, Grenade e Thee Butchers’ Orchestra), debates, participação ativa do público, saraus (eu mesmo declamei poemas) e conversas sobre fanzines. Havia uma efervescência, e é nesse momento que o Scream & Yell On Paper morre e nasce o Scream & Yell On Line.

Porque decidiram parar o zine após a edição 6?
Fazer fanzine impresso é um trampo danado, consome grana, precisa uma dedicação que eu, recém-mudado para São Paulo e trabalhando em dois empregos (iG e Noticias Populares) não tinha. Dai surgiu o Hugo Tavares, que se apaixonou pelo fanzine e pirou que queria fazer o site. E fez. Ele entrou no ar em 20 de novembro de 2000. Eu trabalhava no iG de 6h às 12h, mas para abastecer o site com textos comecei a entrar meia-noite e ficava até meio-dia. Com o site começando a ser comentado aqui e ali, o fanzine em papel foi ficando em segundo plano. Já teve épocas de eu acordar no meio da noite, rascunhar algumas coisas e pensar: vou fazer mais um Scream & Yell impresso. Mas passa… (risos)

Aquele lance de sempre incluir textos de jornalistas consagrados, como “matérias antólogicas”, qual era a estratégia? Alunos de comunicação tentando se aproximar? rsrsr Vocês pediam permissão ou publicavam na cara dura?
Hahaha, bem, eu fiz Publicidade e Propaganda na Unitau entre 1994 e 1998. Acho que incorporei dogmas da profissão, mas nada foi planejado. Na verdade a gente queria ser lido e também retribuir um pouco do que aqueles jornalistas tinham feito pra gente. Então é sério o lance de amar aquelas matérias antológicas. Eu tenho a grande maioria delas impressas até hoje, porque o meu jornalismo foram elas. Foi ali que eu aprendi a arte de escrever, lendo Ana Maria Bahiana, André Forastieri, Lúcio Ribeiro, André Barcinski, Alex Antunes, Marcel Plasse, essa turma toda. O jornal tem essa coisa do “embrulhar peixe no dia seguinte”, e a ideia do “Matérias Antológicas” era dar certa perenidade àqueles textos. Nunca foi, conscientemente, uma estratégia, mas uma forma de valorizar o jornalismo cultural, algo que ninguém faz. Eu fui “criado” pela revista Bizz, então há varias entrevistas e reportagens que eu sei exatamente onde estão em cada edição da revista. Quando preciso de alguma referencia, me lembro: “Fulano falou sobre isso em tal edição”, e vou lá conferir. A ideia do Matérias Antológicas foi dar uma sobrevida a esses textos. Alguns a gente pedia autorização e outros republicamos na cara dura, porque éramos (e ainda somos) apaixonados por aqueles textos. Teve uma vez que andando na Amoeba, em São Francisco, encontrei o CD do Hapa, uma dupla de havaianos nativos, e quase tive uma síncope. Era um CD que a Ana Maria Bahiana havia escrito num texto que amo, o “Belas Canções Sob o Céu da Califórnia”, que foi publicado no Estadão em 1996. Eu encontrei ele na Amoeba quase 15 anos depois, em 2010!! Esses textos me acompanham (ele está publicado no Scream & Yell). Eles moldaram a minha maneira de ver o mundo e eu agradeço de coração a todos os jornalistas que me fizeram um apaixonado por cultura pop. A seção Matérias Antológicas, ainda online na versão 1.0 do site, foi minha maneira de retribuir tudo que eles me deram.

O que você fazia na época? Trabalhava em algum lugar?
Eu era auxiliar de biblioteca concursado da Universidade de Taubaté. Assim que me formei, em 1998, prestei outro concurso interno e fui transferido para a Pró-Reitoria de Extensão, para trabalhar diretamente com a Pró-reitora. Era o que tinha praquele momento e foi bem bacana, mas bastou pintar uma oportunidade de trabalhar com jornalismo em São Paulo para largar tudo.

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abril 15, 2017   No Comments