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Europa 2013: Rodando bares em Bruxelas

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Beber em Bruxelas não é um desafio, mas um prazer que se pode fazer em qualquer esquina – desde que você saiba o caminho de casa após a terceira garrafa. Afinal, qualquer lojinha destaca um cem números de cervejas belgas que vão fazer você feliz a preços módicos, mas, ainda assim, entrar em um autentico “boteco” belga (que poderá ser um bar, um café, um bistrô ou uma brasserie – ou tudo isso junto) é praticamente voltar no tempo. Abaixo, alguns lugares que visitei nos meus dois dias e meio desta viagem separados para Bruxelas, e que você encontrará cerveja de excelente qualidade – e eventualmente comerá alguma coisa. Mas vá devagar e tenha em mente o mantra “beba menos, beba melhor”, porque a coisa aqui é séria

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A La Morte Subite
Rue Montagne-aux-Herbes Potagères 7
http://www.alamortsubite.com/

Conheço Márcio LC desde o século passado, quando o Scream & Yell ainda era um fanzine em papel, e éramos apenas sonhadores fãs de boa música. Márcio mora em Bruxelas desde aquela época, o que não o impediu certa vez de me mandar uma coletânea “Best of 2001”, que foi trilha sonora pessoal durante aqueles meses incertos de recém-morador de São Paulo, sem muitas perspectivas, mas com muitos sonhos (Air, Royksopp, Spiritualized, Tindersticks, Mogwai, Bonnie Prince Billy, Nick Cave e outros caíram a perfeição na escuridão de noitadas em claro). Apesar de conversamos bastante naquela época, nunca tinha encontrado Márcio pessoalmente (eis uma das características marcantes do mundo moderno – para o bem e para o mal), e essa passagem em Bruxelas serviu para brindarmos aos velhos tempos.

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Márcio recomendou irmos ao A La Morte Subite, um café brasserie fincado no mesmo local desde 1928, e que serve algumas das especialidades da marca. Abrimos a noitada com uma Mort Subite Gueuze sur Lie, uma típica cerveja azeda e saborosa, caracterizada por uma fermentação espontânea, e que você irá encontrar em apenas uma cidade do mundo: Bruxelas. Excelente. O Café, mensalmente, aposta em um rótulo de alguma micro cervejaria belga, e a deste mês era a La Corne du bois des pendus Tripel 10. Uma das melhores da noite, que ainda contou com uma espetacular Westmalle Double Brune tirada da torneira, sem muita carbonatação, e altamente frutada, uma Grimbergen Optimo Bruno e, pra fechar, uma deliciosa A La Morte Subite Blanche. Noitada perfeita (e nem comentei do excelente omelete).

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Moeder Lambic
Place Fontainas 8
http://www.moederlambic.com/

Um amigo já havia avisado: se quiser beber Cantillon de torneira, vá ao Moeder Lambic. Mas o parceiro também sommelier de cervejas Leonardo Dias já havia passado pelo local em janeiro com sua esposa, Aline, e conhecia bem o pedaço. Camelamos muito durante o dia inteiro (o que inclui uma tarde de degustação de lambics na fábrica da Cantillon e um jantar no restaurante de “cuisine à la bière” In’t Spinnekopke – Albergue da Aranhazinha –, dica retirada de um livro do grande Garrett Oliver, mestre cervejeiro da Brooklyn Brewery, cujo final da noitada de dia claro, inesquecível, foi um sorbet de cerveja kriek, absolutamente sensacional – não que a carne cozida em cerveja lambic abaixo tenha deixado a desejar, pelo contrário).

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Do Albergue da Aranhazinha partimos para a Moeder Lambic, e o bar estava absolutamente lotado, ao contrário do começo do ano, em que Leo e Aline estavam em uma das raras mesas ocupadas do local, o que facilitou o atendimento especial. Desta vez, a concorrência era feroz, e nós, estrangeiros, ficamos meio perdidos. Mas vale muito ir ao lugar, um dos raros templos cervejeiros em Bruxelas que abre a sua carta para cervejarias de outros países (há no cardápio online e mesmo em uma lousa no bar a lista de cervejarias convidadas). A especialidade da casa é lambic, mas as mais de 60 torneiras são uma oferta paradisíaca para aqueles que querem se aprofundar no território das boas cervejas.

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O cansaço, no entanto, nos vitimou. E a demora no atendimento abaixou o pique que o sorbet de cerveja kriek nos trouxe após o jantar especial. A ideia inicial era encarar uma Papa IPA, de uma cervejaria da cidade, a Brasserie de la Senne, e ver como os novos cervejeiros belgas estão se movimentando nesse mercado mutante de cerveja artesanal (o fato de belgas apostarem em India Pale Ale mostra que, definitivamente, os Estados Unidos se inscreveram como uma escola altamente influente), mas acabamos por dividir uma ótima saison da Brasserie de Blaugies, a La Moneuse, mais caramelada e menos frutada que as saisons mais famosas, e por isso bem interessante. Foi só essa, mas quero voltar ao Moeder Lambic.

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Delirium Café / Delirium Monasterium
Impasse de la Fidélité 4
http://deliriumcafe.be/

Boa parte das pessoas que já foram alguma vez para Bruxelas, já passou pelo Delirium Café, boteco que está no Guiness, Livro dos Recordes, como o local com mais cervejas disponíveis para o cliente em todo o mundo, o que praticamente o transforma em um shopping center alcoólico para os fãs de boa cerveja. O catálogo cardápio é um sonho, com centenas e centenas de rótulos, e não só belgas (apesar deles serem a maioria), mas italianos, norte-americanos, alemães e até brasileiros (Skol, Xingu e uma chamada Samba do Brasil não nos representam em terras belgas – vou escrever um e-mail pra lá sugerindo algumas artesanais nacionais como a Wäls, Way, Bodebrown e Colorado).

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Diante de tanta oferta e algumas promoções (como boa parte da linha Baladin 750 ml por 10 euros), acabei escolhendo um rótulo da francesa La Brasserie de Fleurac: Fleurac Triple Brune IPA, uma cacetada de 8% de álcool envelhecida em barris de carvalho. Fiquei seduzido pelo Triple IPA, mas achei o álcool exageradamente presente, o que a torna um pouco desbalanceada. Para manter o nível alcoólico, a próxima, já no Delirium Monasterium, parte do Delirium Village especializado em cervejas trapistas (com ou sem título oficial), foi uma Engelszell Gregorius Trappistenbier, a tal nova trapista austríaca, uma surpresa de 9,7% de álcool, notas intensas de baunilha, caramelo e nozes (tanto no aroma quanto no paladar) e alto teor de causar rubor nas faces.

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Na mesa ao lado, um grupo de espanhóis dividia uma belíssima taça de dois litros de La Trappe Quadrupel (21 euros, segundo o cardápio). Alguns amigos, assim que postei a foto no Facebook (as duas imagens que ilustram este texto são da Aline), lembraram das torres de chopp tão famosas em praças de alimentação de shopping centers brasileiros, mas no caso da taça de dois litros de La Trappe Quadrupel, a coisa faz todo sentido porque estamos diante de uma cerveja que muda o sabor conforme sua temperatura sobe, e fica ainda melhor (ao contrário das torres brasileiras, que precisam manter o líquido estupidamente gelado, para que ele não perca a talvez única qualidade que tem, que é a refrescância). Ainda voltarei ao Delirium Monasterium com uma turma de amigos para encarar uma taça de dois litros…

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Au Bon Vieux Temps
Impasse Saint-Nicolas 4

Há certa magia em torno da cerveja trapista Westvleteren, feita na abadia de Saint Sixtus. Falei um pouco sobre o assunto quando escrevi da Westvleteren 8, e, naquela época, era um pouco mais difícil e mais caro encontrar um exemplar da cerveja mítica por ai dando sopa (mesmo em Bruxelas). Hoje, após um projeto de modernização do mosteiro que colocou centenas de milhares de caixas no mercado (uma manchete dizia que havia mais fila para comprar Westvleteren do que o então recém-lançado iPad 2), é até mais fácil encontrar as três Westvleteren (6, 8 e 12) em bons empórios, seja em Amsterdam, Paris ou Bruxelas. O preço irá variar entre 10 e 20 euros a garrafinha de 330 ml, a não ser que você decida ir até o mosteiro.

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Ainda assim é possível beber a Westvleteren 12, eleita a melhor cerveja do mundo, em um café de Bruxelas pagando 10 euros (mais barato, por exemplo, do que no Bier Tempel, tradicional reduto cervejeiro bruxelense). O local se chama Au Bon Vieux Temps, e fica numa vielinha perto da Grande Praça. A senhora espanhola é atenciosa, e o cardápio da casa traz várias trapistas, mas eu não podia perder a chance de beber uma 12 sem que ela tenha sofrido tanto para chegar ao Brasil (há sobre minha geladeira, neste momento, uma 6, duas 8 e duas 12 – a primeira trazida na viagem deste ano e as outras quatro da viagem do ano passado, cortesia da Luana, que as comprou em Amsterdam). Valeu a expectativa, o ambiente aconchegante e a belíssima cerveja. Se tiver por perto da Grande Praça, vale muito ir ao Au Bon Vieux Temps.

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Leia mais: Diário de Viagem Europa 2013 (aqui)

junho 29, 2013   No Comments

Sobre o Best Kept Secret e Bruxelas

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“O que você fez depois da Holanda?”, perguntou um amigo a respeito do Diário Europa 2013. Hora de atualizar as histórias de viagem. Então, após conhecer a encantadora Delft e me decepcionar um tiquinho com Haia, parti em direção ao motivo que me levará para terras holandesas neste ano, o Best Kept Secret Festival, em Hilvarenbeek, do lado de Tilburg, vizinha de Eindhoven, local em que montei meu QG de cobertura.

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A rotina diária consistia em acordar, pegar o trem para Tilburg (22 minutos) e, na própria estação de trem, pegar o shuttle para o festival (11 minutos). Não houve muita coisa fora 10 horas de festival diários, sobre o qual publiquei a cobertura completa no site (leia aqui), as fotos numa galeria no meu flickr e alguns vídeos aqui mesmo no blog. Fora isso, cervejas belgas por 1,90 euros na vendinha e uma visita a La Trappe, que conto melhor depois.

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Na segunda, após os shows sensacionais de Portishead e Sigur Rós na noitada de domingo, parti para Bruxelas. Engraçado: eu já havia passado em quatro oportunidades pela cidade que tem uma das grandes praças mais lindas do mundo e mais cervejas à venda em tudo quanto é canto do que dias no calendário anual, mas nunca tinha dormido em Bruxelas. Sempre era uma coisa de passar o dia e ou ir pra Leuven (Rock Werchter), Bruges ou Paris.

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Desta vez consegui um quartinho perto da Grande Praça, oito lances de escada acima, que quase vitimou esse pobre coração, fraco e cansado. Na rua ao lado, na noite em que cheguei, Patti Smith fazia um show sold out, e as ruas cheiravam a batata frita. Foi uma passagem rápida e pra lá de especial em uma cidade que me mudou completamente nos últimos anos. O que sou hoje é um Marcelo pós ter conhecido cerveja belga, seis anos atrás. Aconteceu muita cois, mas vamos lembrando aos poucos. Bruxelas, um beijo.

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Leia mais: Diário de Viagem Europa 2013 (aqui)

junho 29, 2013   No Comments