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Discoteca Básica da Bizz

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Em noites de lua cheia de anos bissextos sempre aparece alguém declarando amor ao Scream & Yell, dizendo que quando descobriu o site sua vida mudou. Alguns chegam a dizer que decidiram fazer jornalismo após devorá-lo durante noites em claro (não tenho como ressarci-los por tê-los colocado nessa profissão, mas espero que vocês se divirtam – risos). Acontece com uma freqüência que faz minha alma sorrir.

Já eu devo boa parte da minha paixão por jornalismo cultural (por boa parte leia-se 90%) e de minha educação musical a Revista Bizz. Já contei isso em algum lugar deste blog (provável que na versão 1.0), mas tive várias coleções da revista (três ou quatro). Eu tentava me livrar dela, e quando dava por mim lá estava eu no sebo recomprando tudo (numa dessas perdi, por duas vezes, a edição zero com Mick Jagger na capa).

Chegou uma hora em que aceitei: a revista iria me acompanhar para o resto da vida. Comprei o CD-Rom, mas a coleção com todas as edições em tinta e papel sobrevive em uma estante no quarto. É esta última que consulto quando alguma informação surge na memória. Engraçado. Esqueço nome de pessoas (por mais que eu me esforce), mas sei de cor em que página de tal edição li algo sobre tal assunto.

Ontem, 24 de dezembro, quando o amigo Mauricio Ângelo (@mgangelo) tuitou um link com todos os textos da Discoteca Básica publicados na revista, abri um sorriso. Por alguns minutos me perdi em lembranças boas. De Ana Maria Bahiana falando do Clash (“Três anos depois do verão punk, o establishiment pop ainda lambia suas feridas”) e José Augusto Lemos falando de Miles Davis (“Há pelo menos oito discos de Miles que não podem ficar fora de nenhuma Discoteca Básica”).

De Celso Pucci falando de Joy Division (eles “jogavam a última pá de terra sobre o romantismo do rock’), Fernando Naporano de Arnaldo Baptista (“Arnaldo pagou muito caro por toda essa paixão levada às últimas conseqüências”) e Alex Antunes de Roxy Music (“Os 60 foram anos de esperança, os 70, de confusão”). De André Barcinski sobre Black Sabbath (“O grupo permanece como um dos mais subestimados de todos os tempos”).

E André Forastieri (em um dos textos clássicos da história da revista) sobre Ramones: “É duro ser um garoto de doze anos afundado até o queixo no lodoso tédio urbano. Todo mundo dá palpite na sua vida. O status em casa e na rua, a voz e até o corpo ainda são de criança – mas os instintos são de homem, e as garotas, todas ficando peitudas, não estão nem aí com você. Escrotas. Piranhas”.

No link que se segue você tem acesso aos 215 textos dissecados pela seção. O primeiro, da Bizz 01, de agosto de 1985, começa com uma citação. Imagine que o Brasil está saindo aos trancos de uma ditadura, que o Rock in Rio (sete meses antes) e o emergente rock nacional sinalizam a possibilidade de uma revista de rock. Não havia internet, Google e nem Wikipédia. Apenas cadernos de cultura dos jornais. Era preciso começar praticamente do zero. E começou… assim:

“Cada década produz um ou dois momentos autenticamente memoráveis. Em regra, apenas uma guerra ou uma tragédia apavorante conseguem penetrar as preocupações de milhões de pessoas ao mesmo tempo e ocasionar uma única e bem orquestrada emoção. Mesmo assim, em junho de 1967, tal emoção brotou sem ter sido causada por nenhuma morte, mas pela simples audição de um disco.”…

Discoteca Básica da Revista Bizz

Ps. Feliz natal

dezembro 25, 2010   5 Comments