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José González: entre o psycho e o candy

Num quarto de hotel em Santo Antonio, Texas, um rapaz negro dedilha seu violão. Na sala, dois homens brancos de mais idade preparam-se para gravar o som que vem do quarto através de um fio. Assim que a sessão começa, eles se olham e confabulam: “Tem mais alguém no quarto com ele? Como é que ele consegue fazer o acompanhamento e o solo ao mesmo tempo?” O rapaz se chamava Robert Johnson, e como ele conseguia fazer isso, bem, ele conseguia.

É em Robert Johnson que penso quando vejo José González tocar suas canções que falam de amor e religião. Não, José González não toca blues, mas está muito próximo de Robert Johnson pela extrema destreza que exibe ao tocar um simples violão de seis cordas. González é muito mais Nick Drake, João Gilberto e Ellioth Smith em conceito, mas na prática ele faz ressurgir, a cada apresentação, a aura mágica do som que aquele rapaz de 25 anos tirou de seu violão em um quarto de um hotel de segunda categoria no Texas, em 1936.

Essa proximidade acontece, principalmente, quando José apresenta canções como “Crosses”, do álbum de estréia, “Veneer” (2003), e, principalmente “Down the Line”, do recém-lançado “In Our Nature”. Você fecha os olhos e ouve duas, até três linhas harmônicas, e fica pensando em como ele consegue tirar esse som, como ele consegue fazer acompanhamento e solo ao mesmo tempo. É uma experiência e tanto ver José González ao vivo.

Em sua segunda passagem pelo Brasil em seis meses, o músico sueco (pero, de família argentina) fez uma apresentação igualzinha a primeira. Sim, havia músicas diferentes no repertório. No primeiro show, em julho, a base foi seu debute além de algumas músicas inéditas e as famosas covers. Agora, aquelas faixas inéditas já são um álbum, mas mesmo engordando o repertório, as covers continuam lá, para felicidade do público. E as novas canções mantém a poesia, o silêncio, a reverência pela melodia que leva o violonista a estender a canção pelo simples prazer de continuar ouvindo o som.

Há, também, um avanço na perda da timidez. Na passagem anterior, José fez um pocket show na Livraria da Vila, em São Paulo. Antes do show começar, o músico podia ser visto circulando pelo recinto, olhando CDs, folheando livros, sempre cabisbaixo, fugindo de um confronto. Agora, José se dá ao luxo de entrar para o bis, com grande parte do público em pé no teatro do Sesc Vila Mariana, brincando com seu português canhestro: “Agorah, sóóh as pupuzudas”.

O show permanece impecável como um todo. “Hints”, com seu arpejo sublime, é avassaladora. A cover de “Heartbeats”, original The Knife, virou marca registrada José González: a melodia das notas do violão se misturando na atmosfera com as sílabas soltas pela boca, todas na mesma altura disputando a atenção da audiência. “Cycling Triviliaties”, em uma versão mais enxuta que a do álbum “In Our Nature”, ganhou um bonito sampler de um trompete.

Em “Abram”, José lembrou a temática central do novo álbum, com canções inspiradas no livro “Deus, um Delírio”, de Richard Dawkins: “Dizem que existem um, dois, vários deuses. Essa canção fala sobre isso”, explicou. A arrebatadora versão de “Teardrop” encerrou a apresentação de forma digna: sozinho, González consegue manter intocável a beleza do original do Massive Attack (com Liz Fraser, do Cocteau Twins, nos vocais).

No bis, “Deadweight On Velveteen”, com sua modulação arrastada, seu dedilhado crescente e o formato “acompanhamento e solo” que tanto impressiona. Para fechar, “Love Will Tear Us Apart”, clássico do Joy Division cantado no limite extremo entre a doçura e a violência, entre o psycho e o candy, entre a delicadeza da voz e o barulho arranhado do violão. Uma grande versão, um belo show.

janeiro 20, 2008   No Comments

Pink Floyd, Classic Albums Collection

O do Nirvava (”Nevermind”) é bem mezzo; o do Metallica (”Black Album”) é um pouquinho melhor, mas nada espetacular; já o do Sex Pistols (”Nevermind The Bollocks”) é muuuuito divertido; eu esperava mais do Classic Albums do The Who (””Who’s Next”), mas ainda assim tem bons momentos; o do Elton John (”Goodbye Yellow Brick Road”) é bem bacana; o do U2 (”The Joshua Tree”) é excelente, porém, no nível hors-concours estão Lou Reed (”Transformer”, sensacional) e The Band (”The Band”, uma aula).

O Pink Floyd, com “Dark Side Of The Moon”, no entanto, é inigualável. Fiquei chapado com o DVD que conta a história do álbum (e não foi de marijuana). É impressionante o nível de detalhismos e a grandiosidade da produção deste álbum. Eu só queria saber onde é que estão as fitas demos pré-gravações (”Money” e “Time” aparecem em versões da época apenas em voz e violão) e quando eles vão liberar os excelentes áudios dos shows de 1972 e 1973 que aparecem no DVD. São sensacionais.

Ps. Ainda, pela frente, tenho o Queen (”A Night At The Opera”) e Iron Maiden (The Number of The Beast”) para ver…

janeiro 20, 2008   No Comments