Random header image... Refresh for more!

Canções que fazem sonhar

Discos tributo, quando bem produzidos, têm um valor inestimável para o público jovem, principalmente quando o homenageado não é conhecido pelas novas gerações. O raciocínio simplista funciona mais ou menos assim: o que um cara como John Fahey fez para que gente tão bacana quanto Sufjan Stevens, Lee Ranaldo (Sonic Youth), Devendra Banhart, Calexico, Jason Lytle (Grandaddy) e M. Ward (entre outros) deitassem sobre seu repertório e acordassem com treze versões arrebatadoras?

O motivo, caro leitor, está lá no fundo do baú da história. John Fahey é um dos pioneiros na arte da guitarra acústica, e “I Am the Resurrection: A Tribute to John Fahey”, revisita com emoção seu fabuloso repertório. John Fahey (falecido em 2001) lançou seu primeiro álbum em 1959 e, a partir de então, exercitou uma musicalidade que procurava desbravar a América negra, o folk, o blues e o country em pequenas sinfonias acústicas de rara beleza. Não à toa, quando a Rolling Stone se reuniu, em 2003, para apontar os 100 guitarristas mais influentes de todos os tempos, Fahey apareceu em uma honrosa 35ª posição.

Para adentrar ao mundo deste “I Am the Resurrection: A Tribute to John Fahey” você precisa, primeiramente, esquecer das paradas de sucesso, das listas dos mais vendidos, da música pop feita para ser consumida vorazmente em alguns segundos e esquecida para todo sempre. A música de John Fahey (encaixotada no preguiçoso gênero acid folk) exige atenção, e depois que você a concede esse benefício, o retorno é quase impossível: ela agarra sua alma num abraço delicado e silencioso que não lhe dá alternativa além de sonhar e sonhar e sonhar.

O maior mérito de “I Am the Resurrection: A Tribute to John Fahey” é introduzir o ouvinte no universo do homenageado. É certo que após ser embalado por Sufjan Stevens na emocionante “Variation On ‘Commemorative Transfiguration & Communion At Magruder Park’”, Devendra Banhart em “Sligo River Blues”, Calexico em “Dance Of Death”, Cul de Sac na piscodélica “Portland Cement Factory at Monolith”, e/ou Peter Case na saudosa “When The Catfish Is In Bloom” (com seus mais de sétimo minutos de delírios), você vá querer ir atrás dos originais. E, então, irá descobrir que essas mesmas canções (e muitas outras) podem soar ainda melhores do que elas soam neste tributo. Boa descoberta.

janeiro 8, 2008   No Comments